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quinta-feira, setembro 04, 2014

CALIXTO GUIMARÃES: ASSASSINATO POR ENCOMENDA? POR SUPOSTO, OU CERTAMENTE?

Por Ivaldo Lúcio

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ESTÁ AI NA ILUSTRAÇÃO, O QUE RESTOU DO JORNALISTA JOÃO CALIXTO GUIMARÃES, QUE MORREU PENDURADO NUMA ÁRVORE APÓS SER ALVEJADO COM UM TIRO CERTEIRO DISPARADO POR UM BANDIDO MERCEINÁRIO, QUE, DEVE SUPOSTAMENTE TER SIDO MUITO BEM PAGO POR ALGUÉM PARA ELIMINAR UM DOS MAIS VALOROSOS E SOLIDÁRIOS SERES HUMANOS DOS MUITOS QUE JÁ TIVE A OPORTUNIDADE DE CONHENCER DURANTE MINHA LONGA EXISTENCIA! CONFUNDI-LO COM UMA ONÇA SÓ CONVENCERIA UM ASNO!

Matar Calixto como matou o indivíduo que vivia à sua volta, bem como da sua honrada e generosa família Guimarães, foi uma brutalidade inominável, uma covardia bem própria de indivíduos inqualificáveis. O assassino era tratado pelo Calixto e sua família como se fosse um irmão biológico. Quem poderia imaginar que o tal patife se prestaria a um ato de tal natureza? Ninguém, certamente! Nem mesmo um cangaceiro da época do Lampião seria capaz de tamanha covardia, até porque os cangaceiros comandados por Lampião obedeciam rigorosamente um código de ética estabelecido pelo chefe do cangaço. Covardia e traição não faziam parte do estilo de vida que levavam nas suas andanças pela caatinga do sertão nordestino. Quando me disseram que Calixto tinha sido assassinado, logo me lembrei, quando em conversa com ele na minha casa, onde ele escreveu grande parte do livro “DESORDEM E RETROCESSO na Guerra do Indigenato”, obra essa que a seu pedido escrevi o prefácio e sugeri o título, disse-lhe que o livro era uma bomba de efeito retardado, e que ele deveria ter cuidado, pois seu conteúdo denunciava poderosíssimas corporações comandadas por pessoas, que a partir da publicação da obra iriam ficar expostas a visitação pública e que por suposto iriam fazer o que fosse necessário para silenciá-lo. Em resposta a minha observação Calixto disse assim: “que nada companheiro, esse livro é mais uma canção, uma poesia que componho para alegrar meu povo sofrido que foi expulso dos seus domínios pela máfia que comanda a FUNAI, AS ONG’S ALIENÍGENAS, BEM COMO A PRELAZIA DE SÃO FELIX DO ARAGUAIA, na pessoa do ex Bispo Pedro Cassaldáliga, que até hoje ainda DITA REGRAS ATÉ NOS PALÁCIOS QUE ACOMODAM O ALTO COMANDO DOS PODERES CONSTITUÍDOS.

Está avisado, né Calixto? Depois não reclame, não diga que não foi alertado para o perigo que corre após seu livro cair nas mãos dos poderosos de plantão na república. Após essa prosa Calixto Guimarães levantou-se pegou a viola e foi cantarolar uma canção que estava compondo e que abordava o tema do despejo dos trabalhadores qualificados como intrusos nas terras que ocupavam há anos, propriedades adquiridas de forma legal. Quem poderia imaginar que aquele poeta, violeiro, cantor, compositor, jornalista, e escritor, um cara de bem com a vida como era ele, poderia ter um fim trágico como teve? Ninguém certamente jamais poderia imaginar tamanha desgraça.

As informações que chegaram por aqui, é que o canalha que atirou nele teria dito que o confundiu com uma onça. Cabra safado! Como poderia alguém confundir Calixto com uma onça? E pior que isso, o jornalista estava em cima de uma árvore como mostra a foto tirada do local do crime. Não há qualquer dúvida que o tiro que matou Calixto foi calculado minuciosamente. Não é possível acreditar em outra hipótese que não seja de execução sumária contra um corajoso jornalista que resolveu desnudar as nojentas tramas perpetradas por agentes a serviço de poderosas corporações que desejam a qualquer custo se assenhorearem de áreas importantes, produtivas, e até quem sabe onde possa existir bens preciosismos no subsolo? Tudo é possível e deve ser levado em conta por quem de direito. Ou não é esse um raciocínio lógico? Outra coisa que precisa ser levado a serio é a investigação que se propõe desvendar o assassinato daquele ilustre jornalista? Quem mandou matar Calixto? Quanto pagaram ao pistoleiro para liquidá-lo? A quem ou a quantos interessava a morte do jornalista? Tais perguntas precisam ser respondidas, não apenas e tão somente aos familiares do violeiro, mas a todos que o admirava e tinha por ele grande estima e consideração. A sociedade como um todo precisa de uma resposta concreta sobre o assassinato do poeta do serrado. Onde está escondido o miserável que atirou no jornalista em cima de uma árvore e disse que o confundiu com uma onça? Acaso onça é passarinho para pousar nos galhos de uma árvore? A família Guimarães precisa acionar todos os meios legais para desvendar essa arca de morte acidental. Vale acrescentar que não adianta entregar esse caso a Deus para ele resolver como alguns parentes do Calixto que andam com a bíblia na mão possam imaginar. Deus anda demasiadamente ocupado com milhões de conflitos pelo mundo afora ou adentro para largar tudo e vir ao Araguaia tratar desse assunto. Entenderam o recado? Se não entenderam é bom refletir porque a morte do Calixto não pode nem deve vir a se transformar em mais um número nessa estatística de horror e ódio. Quando estamos falando em amor e ódio, temos que admitir que um entre muitos dos personagens a que o escritor Calixto se refere no seu livro de forma ácida denunciando um enorme elenco de ações nefastas contra os produtores expulsos dos seus domínios ai no Araguaia. Um entre os muitos indivíduos e corporações denunciadas, se encontra o ex Bispo da Prelazia de São Felix como se refere o escritor, o catalão Casaldáliga que durante anos infernizou a região colocando índios contra os cidadãos a ponto de por pouco não ter se concretizado um massacre entre as correntes beligerantes. Por tanto o Ex Bispo poderia ser um dos personagens investigados pelas autoridades que precisa elucidar o assassinato do jornalista que tanto lutou para tentar estabelecer a paz na região. Não há dúvida que o assassinato do escritor João Calixto Guimarães está umbilicalmente ligado ao livro intitulado “DESORDEM E RETROCESSO”. Ali na obra o autor alinhavou todos os malfeitos das organizações alienígenas, bem como as pessoas que de forma direta ou indireta contribuíram para que o desenvolvimento sócio econômico e cultural da região do Araguaia sofresse o atraso que sofreu durante os quase quarenta anos em que Casaldáliga se estabeleceu na Prelazia de São Felix do Araguaia. Quem matou Calixto já se sabe, agora é imperioso que as autoridades desvendem o nome ou nomes daqueles que mandaram apagar o brilho do jornalista que almejava a união de todos em torno do desenvolvimento da região que ficou conhecida pela alcunha de “O VALE DOS ESQUECIDOS”. Por falar em vale dos esquecidos, também vale acrescentar que o assassinato do jornalista Calixto Guimarães, será sempre lembrado como pesadelo, verdadeira tragédia por todos aqueles que o admiravam e respeitava pelo grande ser humano que ele foi, tanto como jornalista, violeiro, compositor, cantador e escritor. Acrescentem a essa lista, outras especiais qualidades, a exemplo de um zeloso pai, esposo exemplar, sem considerar que ele era um cidadão profundamente preocupado com a defesa das liberdades coletivas e individual. A síntese de tudo que se diz aqui é a seguinte: sua filosofia de vida. Calixto foi um homem do bem, profundamente solidário, e um amigo leal! Nunca vou esquecê-lo!

 

 

 

Ivaldo Lúcio é jornalista em Cuiabá

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