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quarta-feira, abril 18, 2012

MP revela ainda que igreja emitia boleto a familiares de presos

Por: GLÁUCIO NOGUEIRA
Fonte: Gazeta Digital


Situações ilegais no Centro de Ressocialização de Cuiabá são investigadas pelo MP e autoridades prisionais de Mato Grosso
Foto de Chico Ferreira

Ala "penhorava" até comida

Situações ilegais no Centro de Ressocialização de Cuiabá são investigadas pelo MP e autoridades prisionais de Mato Grosso

Além do dinheiro arrecadado dos presos, líderes da ala evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) ficavam com 40% dos alimentos levados por familiares. Os produtos eram depois comercializados com os próprios reeducandos e a renda era revertida para duas das 3 igrejas que atuam na unidade.
Além disso, uma das igrejas, a Universal do Reino de Deus, emitia boletos que deveriam ser pagos por familiares utilizando, inclusive, dinheiro do auxílio-reclusão, benefício concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) para presos condenados que estavam trabalhando com carteira assinada.

A falta do pagamento das cotas estabelecidas pelos líderes religiosos implicava em punições que iam desde perder o direito a dormir em um colchão até agressões e outras represálias. O fato foi revelado após o cumprimento de mandado de busca e apreensão no CRC. Na operação, deflagrada na última sexta-feira (13), policiais encontraram cadernos com anotações, dinheiro e até mesmo 3 pedaços de pau.

De acordo com o promotor de Justiça Célio Wilson de Oliveira, as cotas serviriam para melhorias dentro da ala. O Ministério
Público apura ainda se parte dos valores pagos, cerca de R$ 15 mil mensais, também eram encaminhados para as igrejas.
A rede de extorsão e corrupção identificada no CRC foi denunciada por familiares e reeducandos. Além da apreensão de dinheiro e documentos, alguns presos, tanto da ala evangélica quanto da ala dos trabalhadores, foram ouvidos pelos promotores que, com as oitivas, encontraram indícios da participação de servidores da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh/MT), que administra o sistema, com o esquema.

Oliveira pontua que os indícios, que serão alvo de outra investigação, mostram que por intermédio deste servidores e mediante pagamento, reeducandos obtiam benefícios na ala dos trabalhadores da unidade. Para o promotor, os responsáveis pela cobrança do “dízimo” não conseguiriam atingir outras alas, como a dos trabalhadores, sem a participação dos servidores. Para se ter uma ideia do tamanho da rede de extorsão, a unidade, com capacidade para 395 reeducandos, possui hoje cerca de 1,2 mil presos, mais de 60% na ala evangélica.

Homossexuais - A operação não surpreendeu representantes de Organizações Não-Governamentais (ONG) em defesa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais(LGBT). Em março deste ano, a ONG LivreMente denunciou no Jornal A Gazeta o leilão de travestis dentro das unidades do sistema prisional de Mato Grosso e, desde então, seus integrantes foram proibidos de entrar no local.

O presidente da entidade, Clóvis Arantes, conta que no caso dos homossexuais, a cobrança do “dízimo” era feita por meio de favores sexuais e trabalhos domésticos, como a limpeza das celas. “Os outros presos pagavam em dinheiro e os travestis eram trocados”.

Outro lado - Representantes da Igreja Universal afirmaram que não foram notificados
sobre a investigação do Ministério Público e que, por isso, não irão se manifestar no momento. A Sejudh informa que aguardará o término das investigações para se posicionar sobre o caso, mas garante que apoia o trabalho do MP dentro da unidade.

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