Por: GLÁUCIO NOGUEIRA
Fonte: Gazeta Digital
Situações ilegais no Centro de Ressocialização de Cuiabá são investigadas pelo MP e autoridades prisionais de Mato Grosso
Foto de Chico Ferreira
Ala "penhorava" até comida
Além do dinheiro arrecadado dos presos, líderes da ala evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) ficavam com 40% dos alimentos levados por familiares. Os produtos eram depois comercializados com os próprios reeducandos e a renda era revertida para duas das 3 igrejas que atuam na unidade.
Além disso, uma das igrejas, a Universal do Reino de Deus, emitia boletos que deveriam ser pagos por familiares utilizando, inclusive, dinheiro do auxílio-reclusão, benefício concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) para presos condenados que estavam trabalhando com carteira assinada.
A falta do pagamento das cotas estabelecidas pelos líderes religiosos implicava em punições que iam desde perder o direito a dormir em um colchão até agressões e outras represálias. O fato foi revelado após o cumprimento de mandado de busca e apreensão no CRC. Na operação, deflagrada na última sexta-feira (13), policiais encontraram cadernos com anotações, dinheiro e até mesmo 3 pedaços de pau.
De acordo com o promotor de Justiça Célio Wilson de Oliveira, as cotas serviriam para melhorias dentro da ala. O Ministério
Público apura ainda se parte dos valores pagos, cerca de R$ 15 mil mensais, também eram encaminhados para as igrejas.
A rede de extorsão e corrupção identificada no CRC foi denunciada por familiares e reeducandos. Além da apreensão de dinheiro e documentos, alguns presos, tanto da ala evangélica quanto da ala dos trabalhadores, foram ouvidos pelos promotores que, com as oitivas, encontraram indícios da participação de servidores da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh/MT), que administra o sistema, com o esquema.
Oliveira pontua que os indícios, que serão alvo de outra investigação, mostram que por intermédio deste servidores e mediante pagamento, reeducandos obtiam benefícios na ala dos trabalhadores da unidade. Para o promotor, os responsáveis pela cobrança do “dízimo” não conseguiriam atingir outras alas, como a dos trabalhadores, sem a participação dos servidores. Para se ter uma ideia do tamanho da rede de extorsão, a unidade, com capacidade para 395 reeducandos, possui hoje cerca de 1,2 mil presos, mais de 60% na ala evangélica.
Homossexuais - A operação não surpreendeu representantes de Organizações Não-Governamentais (ONG) em defesa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais(LGBT). Em março deste ano, a ONG LivreMente denunciou no Jornal A Gazeta o leilão de travestis dentro das unidades do sistema prisional de Mato Grosso e, desde então, seus integrantes foram proibidos de entrar no local.
O presidente da entidade, Clóvis Arantes, conta que no caso dos homossexuais, a cobrança do “dízimo” era feita por meio de favores sexuais e trabalhos domésticos, como a limpeza das celas. “Os outros presos pagavam em dinheiro e os travestis eram trocados”.
Outro lado - Representantes da Igreja Universal afirmaram que não foram notificados
sobre a investigação do Ministério Público e que, por isso, não irão se manifestar no momento. A Sejudh informa que aguardará o término das investigações para se posicionar sobre o caso, mas garante que apoia o trabalho do MP dentro da unidade.
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