Articulação marconista busca tomar prefeituras estratégicas dos adversários PT e PMDB
Fotos: Jornal Opção
Demostenes Torres é o nome da base aliada na pole
position para a disputa pela Prefeitura de Goiânia
José Cácio Júnior
Um dos objetivos eleitorais do governador Marconi Perillo (PSDB) para fortalecer o partido na região metropolitana é conseguir eleger um correligionário ou aliado para a Prefeitura de Goiânia e no máximo de municípios vizinhos à Capital. Além de aumentar o peso político do PSDB em Goiânia, Marconi quer tirar de cena a mais importante pilastra da dupla PMDB-PT: a maior prefeitura do Estado.
Para isso, Marconi terá que costurar muito bem a aliança entre os partidos da base aliada, já que muitos nomes do PSDB e de outras legendas que fazem parte do governo têm o interesse em lançar candidato. Além disso, a composição de 2012 é um começo da formação das chapas para a disputa do governo do Estado em 2014.
Em conversas privadas, aliados do governador afirmam que existe um compromisso com o DEM de lançar o senador Demóstenes Torres como candidato à Prefeitura de Goiânia. No entanto, Marconi já deixou claro a seus correligionários que apoiará o candidato que estiver bem nas pesquisas e com chances reais de ser eleito. Por isso, pretensos candidatos tucanos correm contra o tempo para poder demarcar seu território no partido.
O principal argumento dos integrantes do PSDB é que a legenda precisa lançar candidato para ter condições de crescer na região metropolitana. O deputado estadual Fábio Sousa (PSDB) — que declara abertamente ser um dos pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia — diz que irá defender até a época da convenção uma candidatura própria da legenda. “Time que não joga não tem torcida”, alega o deputado, dizendo ainda que o partido pode ficar 16 anos sem ter um nome para a disputa na Capital. O último foi Nion Albernaz, eleito prefeito de Goiânia em 1996.
Para defender a candidatura tucana em Goiânia, Fábio Sousa recorre à quantidade de votos que os deputados mais votados do partido obtiveram em Goiânia no ano passado. O melhor colocado foi o próprio Fábio, com 19 mil votos, seguido dos deputados Tulio Isac, com 11 mil, e Helder Valin, com 10 mil votos, também um dos pré-candidatos do partido para a eleição municipal.
Na opinião de Tulio Isac, o PSDB precisa realizar mais investimentos e obras em Goiânia para poder criar uma marca política na Capital. Ele cita construções como o Centro de Convenções, reforma do aeroporto — que não é de responsabilidade somente do Estado — e melhora do transporte público com ações que podem ser desenvolvidas pelo partido. “Por ser governo o PSDB não pode achar que não precisa fazer nada por Goiânia”, alerta o deputado.
O vereador Anselmo Pereira (PSDB) revela que irá pleitear ao menos a vaga do candidato a vice para algum dos vereadores de Goiânia. Para isso, o tucano irá conversar pessoalmente com Marconi. Anselmo acredita que um candidato que possui sua base eleitoral em Goiânia tem mais condições de identificar as necessidades da população. “Não adianta escolher um nome que não conheça a realidade da sociedade.”
Anselmo cita a importância da criação da Secretaria da Região Metropolitana por Marconi. Segundo o vereador, a diferença de votos de Marconi para Iris Rezende (PMDB) no segundo turno — pouco mais de 170 mil — acendeu a luz amarela dentro do partido em relação à Grande Goiânia. “O PSDB tem que começar a trabalhar as teses que fragilizam qualquer candidatura na Capital, como mobilidade e tráfego de veículos e melhorar a prestação de serviços de transporte coletivo e de saúde para a população.”
Para atender às demandas da população da região metropolitana, Marconi criou uma secretaria que cuidará somente do desenvolvimento da grande Goiânia. A pasta fica a cargo de Jânio Darrot (PSDB), segundo deputado estadual mais votado em outubro e provável candidato a prefeito de Trindade. Sem dúvida alguma, o mapeamento realizado por Darrot será utilizado pelos candidatos do PSDB e da base aliada nos municípios da região metropolitana, fazendo as propostas da campanha conforme o raio X traçado pela secretaria.
Corrida
Embora não haja uma ação coletiva para escolher o candidato, alguns partidos da base aliada trabalham individualmente para definir um nome. Discussão sobre coligação ou formação de grupos em favor de determinado candidato só deve acontecer a partir de junho, explica um presidente de partido da base aliada.
Além de Demóstenes Torres e Fábio Sousa, os tucanos Helder Valin e Tulio Isac também já informaram a pessoas próximas que têm interesse em se lançarem candidatos. O secretário de Cidades, Armando Vergílio (PMN), é outro que pode colocar seu nome na briga pela candidatura, assim como o secretário de Cidadania e Trabalho, Henrique Arantes (PTB), que afirma que o seu partido terá candidato.
Henrique explica que o partido precisa crescer tanto em Goiânia quanto no interior e a candidatura na Capital seria uma das formas de aumentar a presença político-eleitoral da legenda. Como o programa eleitoral dos candidatos a prefeito de Goiânia é vinculado para as cidades do interior, alguns partidos devem lançar candidatos para divulgar ao máximo o projeto político de cada legenda. É estratégia eleitoral a médio e longo prazo.
Independentemente de outro nome ser escolhido pela base aliada, Henrique sustenta que o PTB terá candidato. Apesar de declarar interesse em ser o nome de seu partido para a empreitada, é pouco provável que o PTB se lance na disputa. Dois candidatos do mesmo grupo político dividiriam os votos e dificultariam o projeto político de Marconi e seus aliados.
Aparecida de Goiânia
Além da vitória na Capital, o PSDB também discute candidaturas em Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Inhumas, Trindade e outras cidades da região metropolitana. Em Aparecida de Goiânia, o partido só deve lançar candidato próprio se houver chance real de derrotar o prefeito Maguito Vilela (PMDB). Um possível candidato é o deputado federal João Campos (PSDB). Um dos principais defensores da candidatura do deputado tucano é o ex-deputado estadual Marlúcio Pereira (PTB).
Como Marlúcio está sem mandato e com poucas chances de ser candidato, a eleição de João Campos serviria para o fortalecimento político do petebista. A principal justifica para a candidatura de João Campos — que é delegado da Polícia Civil — é a quantidade de evangélicos que moram em Aparecida. Por ser pastor da Igreja Assembleia de Deus, o grupo do deputado federal acredita que ele pode conseguir a maioria dos votos dos evangélicos.
Caso a situação atual permaneça até 2012, o PSDB pode lançar o vice de Maguito. Essa composição seria inimaginável tempos atrás. Mas com a ida de Thiago Peixoto (PMDB) para a Secretaria Estadual de Educação, pode haver uma aliança eleitoral entre PSDB e PMDB. Além de Thiago, o ex-prefeito de Cristianópolis e secretário extraordinário do governo Marconi, Juarez Magalhães Júnior, trabalha uma aproximação entre o governador e Maguito. O vice indicado pelo PSDB pode ser o ex-vereador por Aparecida Veter Martins. Para isso, é preciso que Iris Rezende realmente saia de cena no PMDB. Caso o ex-prefeito de Goiânia se torne um conselheiro político do partido, é pouco provável que a aliança em Aparecida vingue. Iris trabalharia com o maior afinco para tentar impedir essa coligação na segunda maior cidade do Estado.
Senador Canedo
Outra cidade que PSDB e aliados pretendem eleger um prefeito é Senador Canedo. Apesar de ser um município com pouco mais de 84 mil habitantes, a prefeitura arrecada cerca de R$ 25 milhões por mês por conta do oleoduto instalado na cidade. O provável candidato da base do governo é o ex-deputado federal Luiz Bittencourt (PMDB), que deve mudar de partido para disputar a eleição. Mesmo sendo filiado ao PMDB, Bittencourt foi um dos dissidentes da legenda que mais apoiou Marconi durante a campanha do ano passado.
Soma-se a isso o fato do prefeito Túlio Sérvio (PSB) não ser conhecido eleitoralmente por parte da população. O principal cabo eleitoral de Túlio será o ex-prefeito Vanderlan Cardoso — ainda no PR, mas que deve se filiar ao PMDB — que largou a prefeitura sob altos índices de aprovação para disputar o governo do Estado no ano passado.
Questionado sobre sua candidatura no município, Bittencourt desconversa, dizendo que ainda é cedo para pensar no assunto e cita praticamente todas as cidades da região metropolitana que podem fazer parte do seu projeto político, como Goiânia, Aparecida, Trindade, Inhumas, e Goianira. “Ainda tem muita coisa para acontecer até 2012. Quem imaginava que poderia haver o rompimento entre (o ex-governador) Alcides (Rodrigues, PP) e Marconi após a eleição de 2006? Muita coisa do que tem sido dita agora é apenas especulação.”
O secretário estadual de Articulação Institucional, Daniel Goulart (PSDB), afirma que qualquer movimentação no momento pode “atropelar” a composição das chapas para o ano que vem. Na visão de Goulart, a prioridade atual é cumprir com os compromissos feitos durante a campanha. “Acho que não é hora de pensar em 2012 e sim nos problemas de 2011, senão ficamos sem credibilidade para resolver os problemas que apontamos o ano passado.”
“O PSDB está refém das alianças”
O cientista político Silvio Costa afirma que a composição da base aliada do governador Marconi Perillo não ofereceu condições para o fortalecimento político do PSDB. Silvio explica que uma das características da formação da aliança para uma disputa estadual é composta por compromissos políticos nos principais municípios do Estado. Por isso alguns partidos precisam deixar de lado objetivos para poder eleger o candidato da base.
“O PSDB não tem a força que o governo lhe dá. A base de apoio do governador Marconi não reverteu capital político para o PSDB em Goiânia”, analisa o cientista político. A eleição do ano passado provou a importância de se ter uma base aliada unida para o sucesso de determinado candidato. O DEM foi o fiel da balança. Disputado pelos grupos encabeçados por PSDB, PMDB-PT e PP-PR, o apoio dos Democratas foi negociado até o último dia das convenções partidárias. Sem o DEM, que também buscava uma composição bem estruturada para reeleger o senador Demóstenes Torres e aumentar as bancadas estadual e federal do partido, provavelmente o PSDB encontraria muito mais dificuldade para eleger Marconi.
Para garantir o apoio do DEM, o então senador tucano precisou aceitar a indicação do vice-governador, Jose Eliton, por parte do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), seu desafeto político. Caiado também valorizou a importância do DEM, já que, pessoalmente, não queria a aliança com o PSDB e aceitou a decisão da maioria do partido para coligar com os tucanos. Entretanto, Caiado tinha a ciência que em outra chapa seu partido sairia enfraquecido das eleições.
Para ter mais peso político em Goiânia, Silvio Costa acredita que o PSDB precisa discutir internamente nomes que possam representar o projeto eleitoral do partido. Esse também é um caminho para fazer com que a composição da base aliada não comprometa o planejamento individual da legenda. “O PSDB atualmente é refém das alianças e caso Marconi não fortaleça o próprio partido, o PSDB continuará dependendo delas e terá que abortar projetos eleitorais próprios.”
Jornal Opção
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