À tarde, um homem morreu em Várzea Grande à espera de UTI.
De manhã, outro paciente veio a óbito na fila por uma cirurgia ortopédica.
Filha e mulher se desesperam ao saber da morte.
Um homem de 46 anos morreu na tarde desta segunda-feira (6) dentro do Pronto-Socorro de Várzea Grande. A família denunciou que faltou estrutura na unidade e que Assis Manoel da Silva não recebeu o atendimento adequado. O diretor clínico Glen Arruda admitiu que o paciente estava internado em um local inapropriado.
O ideal para o estado de saúde dele seria uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que o hospital não possuía naquele momento. A morte de Assis pode ser a segunda dentro de uma unidade pública de saúde da região metropolitana em menos de 24h. Outro homem morreu pela manhã na fila de espera por uma cirurgia ortopédica no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC).
Desde sexta pedíamos a transferência, mas não veio e meu pai morreu”
diz filha
Além de problemas no atendimento médico, Acieli Aparecida Silva, filha do paciente morto no hospital de Várzea Grande, região metropolitana da capital, reclama da demora para providenciar a transferência do pai para uma outra unidade de saúde com estrutura mais adequada. “Faltaram condições para prestar tratamento e uma sala foi improvisada para estabilização do paciente”, explicou o diretor clínico do PSM. A transferência não veio a tempo.
A Central de Regulação Estadual informou, por meio da assessoria de imprensa, que só recebeu às 16h de domingo (5) o pedido de transferência do paciente Assis, mas não encontrou vaga nem nas unidades do SUS e nem nos hospitais particulares conveniados. Ainda conforme a assessoria, a Central Estadual e a Central de Cuiabá buscaram a vaga de forma cooperada.
“Acabei de receber a notícia da morte do meu pai. Desde sexta pedíamos a transferência, mas não veio e meu pai morreu”, desabafou a filha ao saber do óbito. A filha Acieli Silva comentou que a família chegou a procurar a Defensoria Pública para providenciar a transferência de Assis Manoel, mas ele não resistiu. Assis estava com cirrose, problemas renais e cardiovasculares, segundo informou o diretor clínico do PS da cidade várzea-grandense.
Estrutura precária
Ala que está em reforma no Pronto Socorro de VG.
O diretor clínico do hospital pondera que a unidade está com problemas graves e generalizados e não tem conseguido atender a todos os pacientes. Das quatro salas para realização de cirurgias, Glen explica que três estão fechadas por falta de aparelhos básicos, como foco de luz e instrumentos cirúrgicos, e não podem ser usadas pelos profissionais. A reportagem do G1 percorreu o hospital até as alas que estão em construção e confirmou o que disse o diretor.
Para suprir a demanda do município, Glen Arruda admite que o Pronto-Socorro atualmente tem usado até uma sala improvisada para cirurgias de urgência e emergência e até partos. “A sala a gente improvisa para fazer cirurgia porque às vezes não dá tempo para encaminhar o paciente”, comentou o médico.
As alas estão sendo reformadas, reclama o diretor, em ritmo de “conta-gotas”. “A melhora das condições de trabalho também passa por uma reforma física”, avalia o diretor. Neste cenário, o diretor estima que na atualidade o PSM faz apenas 10% das cerca de 200 cirurgias mensais que eram realizadas dentro da unidade.
Ainda de acordo com o diretor clínico, que também é membro do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Várzea Grande precisa de mais 370 leitos hospitalares para atender a demanda atual. Na região metropolitana, faltam mil leitos, conforme o sindicato.
Morte em Cuiabá
Nenhum hospital quis receber este paciente"
diz diretor clínico do PSM de Cuiabá
Nesta manhã, o diretor do Pronto-Socorro de Cuiabá, Ronaldo Taques, disse que houve demora para transferir um homem, que esperava há 48 dias por uma cirurgia ortopédica, para um hospital do Sistema Único de Saúde ou particular conveniado ao SUS. A vítima, que não teve o nome divulgado, morreu na fila de espera por uma cirurgia ortopédica. Ele pode ter sofrido complicações após uma fratura no fêmur.
“Esse paciente passou do momento da cirurgia. Nós cobramos dos cirurgiões respostas. Queremos saber se foi por complicação da fratura ou se foi por complicação da hérnia. Ele também estava na lista de transferência. Nenhum hospital quis receber este paciente. Acabou o atendimento sendo no Pronto-Socorro. Se houve falhas vamos tentar corrigi-las”, justificou o médico, que vai abrir uma apuração para saber o caso. A viúva Paulina Oliveira acredita que se o marido fosse transferido talvez tivesse chance de viver.
Na capital, das 116 cirurgias ortopédicas previstas para maio, cerca de 30 foram realizadas em mutirão, mas a fila não parou de crescer: atualmente constam 163 nomes na lista. Segundo a prefeitura, cerca de 70 cirurgias devem ser feitas pelo Hospital Geral Universitário, o estado providenciará mais 50 e estão em negociação mais 60 no hospital militar. O número total chegaria a 180 cirurgias.
G1-Ericksen Vital Do G1 MT
(Foto: Ericksen Vital G1/MT)
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