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sábado, março 01, 2014

Região metropolitana de Goiânia: Abadia de Goiás, renascimento após a tragédia

Por Garibaldi Rizzo

Abadia de Goiás situa-se na região do centro goiano a 18 km da capital. A principal via de acesso ao município é através da BR-060 que o corta a cidade. Em um raio em torno de 209 Km do município encontram-se algumas das principais cidades do Estado como Goiânia , Anápolis, Trindade, Rio Verde, entre outras - sendo o acesso facilitado pela qualidade das rodovias, tem uma população 6 868 habitantes(Censo IBGE/20103). Os limites deste município encontram-se distribuídos da seguinte maneira: A Leste, Goiânia, a Oeste, Guapó, ao Norte, Trindade e a Sul, Aragoiânia.

Até a sua emancipação, parte de Abadia era um distrito de Goiânia e parte era do município de Trindade, isto porque a principal avenida dividia os dois municípios. Nessa época sua população era maioria da zona rural com excelente produção de hortaliças, tais como abobrinha, jiló, quiabo, maxixe e outros.

A primeira casa do povoado foi construída em 1956, por Paulino Rosa e mais tarde seu filho Badico construiu o primeiro comércio e o primeiro loteamento. A princípio o nome do povoado seria Abadia dos Dourados em virtude do Ribeirão Dourados que se encontra próximo da região, mas a sugestão de Abadia de Goiás prevaleceu.

Em julho de 1962, iniciaram a construção de uma igreja para Nossa Senhora da Abadia e esta foi inaugurada em 15 de agosto de 1963 com a chegada da imagem da santa. Em janeiro de 1964, Badico construiu um clube na cidade e em dezembro de 1966 foi fundada a Irmandade do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus pelo padre de uma das igrejas de Goiânia.

Em 27 de dezembro de 1995, o município foi desmembrado de Aragoiânia, Trindade, Guapó e Goiânia conseguindo ser emancipado,  pela Lei Estadual nº 12799, de 27-12-1995. O então distrito vivia uma situação singular,  era  governado por duas cidades , dividida no limite pela Avenida Comercial, ou seja, de um lado era administrado pela prefeitura de Trindade e do outro lado pela prefeitura de Goiânia.    

Em meados de 1987, com o acidente radiológico do Césio 137 em Goiânia, é instalado nas proximidades da cidade de Abadia de Goiás, aproximadamente 1 km da região habitada da cidade, o depósito onde nele estão armazenados os resíduos gerados pelo acidente radioativo sob o controle da Cnen, que hoje lá se vão mais de 26 anos, o isótopo de metal Césio, armazenado em dois depósitos subterrâneos. Ela abriga os despojos do maior acidente nuclear do Brasil. São seis mil toneladas de lixo radioativo, originado do rompimento de uma cápsula com 19 gramas de césio. Roupas, plantas, destroços de casas e até animais vivos tiveram de ser lacrados em chumbo e concreto.

O Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO) foi criado em 01/06/89, com a finalidade de representar regionalmente a Cnen, com vistas ao acompanhamento das atividades decorrentes do acidente radiológico com o Césio-137, sendo inaugurado em 05/06/1997. Este Parque Ecológico permite conhecer e pesquisar a natureza e o meio ambiente e oferece eventos educativos e de pesquisas.

O então distrito de Abadia de Goiás começou a receber os rejeitos do Césio na noite do dia 19 de outubro de 1987, pouco mais de um mês após a retirada da cápsula dos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia, em 13 de setembro daquele mesmo ano. Com a descontaminação dos focos, era preciso remover os rejeitos para um local afastado de núcleos populacionais, de trânsito ou de mananciais de água. Escolha de Abadia de Goiás para abrigar o lixo radioativo levou à emancipação do município e à instalação de um avançado centro de estudos.

Os desenhos de uns bois e um símbolo  radioativo estampam a bandeira de Abadia de Goiás. O orgulho da pecuária, forte no rincão goiano, e de um depósito de lixo infectado são o símbolo máximo da cidade.

Hoje, a cidade trata aquilo que seria sua chaga como um presente, que lhe deu notoriedade e até renda. A população de Abadia de Goiás convive harmonicamente com o depósito definitivo, construído ao lado do provisório, após exaustivos estudos multidisciplinares, ligados às áreas de meio ambiente, economia, geologia, segurança nuclear e sociologia. O depósito está nas dependências do Parque Estadual Telma Ortegal ( primeira prefeita eleita).

A União paga envia recursos, como compensação financeira, para o município, por abrigar o depósito. A unidade da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) montada em Abadia recebe 10 mil visitas por ano, de gente de todo o país. Com o incidente nuclear no Japão, a curiosidade e o número de visitas aumentou.

O município possui bons indicadores sociais (saúde, educação e saneamento), uma localização privilegiada, próxima a capital de Goiânia. O Córrego das Pedras que além de oferecer uma bela paisagem é propício para banhos e passeios ecológicos. Lá, plantando, tudo dá. São dezenas de goiabeiras, cajueiros, jabuticabeiras, pés de manga e de acerola. As hortas, 100% orgânicas, produzem alface, couve, coentro, cebolinha e hortelã.  Nem é preciso fazer silêncio para ouvir o canto de pássaros típicos do cerrado, mas é preciso estar atento para não perder as acrobacias de macaquinhos e outros animais da fauna nativa, que se deslocam muito à vontade pelo local. Os córregos Quati e Dourado são um convite à pesca e favorecem a produção de hortaliças, mesmo no quente e seco inverno goiano.

Com a duplicação da BR-060 e com a proximidade de Goiânia, Abadia de Goiás é a próxima cidade a ser conurbada, irá sofrer os impactos desta dinâmica urbana, efeito este que deverá ser minimizado e normatizado com o auxílio de grande instrumento de planejamento, o Plano Diretor Metropolitano, que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos.

(Garibaldi Rizzo, arquiteto e urbanista, presidente do Sindicato de Arquitetos e Urbanistas do Estado de Goiás)

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