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quarta-feira, abril 21, 2010

Transplantes de córneas voltam a ser implantadas no Estado

Transplantes de córneas voltam a ser implantadas no Estado Suspenso desde agosto por implicações sanitárias, procedimento é uma das metas

© Geraldo Tavares/DC

Josuel de Souza, 31, recebeu órgão no sábado de rapaz morto em Rondonópolis

Josuel de Souza, 31, recebeu órgão no sábado de rapaz morto em Rondonópolis

Suspensos desde agosto do ano passado por falta de alvará sanitário, os transplantes de órgãos voltam a ser realizados em Cuiabá. Os dois primeiros procedimentos aconteceram há quatro dias, no Hospital dos Olhos, uma unidade conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) onde também funciona o Banco de Olhos.
A retomada dos transplantes, mesmo sendo um dos itens do Plano de Ação da Saúde (PAS) lançado anteontem pelo governo do Estado, ainda depende de questões burocráticas.
No caso de córneas, os médicos foram autorizados a fazer as duas cirurgias antes de o Estado obter a autorização oficial do Sistema Nacional de Transplante (SNT), em Brasília. Isso porque corria o risco de perder os órgãos doados pela família do jovem Diego de Oliveira Alencar Lima, 26 anos, que morreu dias após ser baleado na porta de uma boate de Rondonópolis (250 quilômetros de Cuiabá).
Dois pacientes de Cuiabá, Josuel Brito de Sousa, 31 anos, cego por causa da ceratocome (deficiência na curvatura das córneas), e a aposentada Benedito Gomes Sebastião, 77 anos, que perdeu a visão por causa da catarata, receberam as córneas e passam bem.
De acordo com o biólogo Alexandre da Silva Roque, coordenador técnico do Banco Estadual de Olhos, por conta de um erro na análise de um dado sobre o índice de aproveitamento de órgãos captados no Estado a SNT ainda não emitiu a licença oficial.
Em virtude disso, Mato Grosso não sabe quando volta a fazer transplantes regularmente. Aqui, explicou Alexandre Roque, 60% das córneas captadas são aproveitadas em transplantes, a exemplo do que acontece nos demais estados.
Das 40% descartadas, 30% são por causa do diagnóstico de hepatite nos doadores. Como as análises laboratoriais são feitas após a retirada das córneas, não dá para saber antes se o doador tem ou não hepatite. O que não poderia, disse Roque, é segurar o cadáver do doador, impedindo o velório e sepultamento enquanto se espera pelo resultado do exame.
Desde dezembro de 2009, quando obteve o alvará sanitário mediante um ajustamento de conduta assinado com a Vigilância Sanitária, o Banco de Olhos aguarda a liberação da SNT.
Em Mato Grosso, 300 pessoas esperam na fila pelo transplante de córneas. Aqui, conforme dados da Central Estadual de Transplante, 289 pacientes receberam córneas novas nos últimos dois anos, dos quais 117 somente no primeiro semestre de 2009, até a data do descredenciamento.
Feliz, Josuel faz planos para quando começar a enxergar. Ele, que antes tinha cerca de 25% da visão com uso de óculos de 7 graus, diz que quer voltar a estudar, fazer faculdade e cursos profissionalizantes.
Na fila do transplante desde 2007, essa é a segunda vez que ele se submete ao transplante. Na primeira vez, em 2008, chegou a recuperar 50% da visão, mas meses depois, apresentou rejeição. A previsão é que, se tudo correr bem, em seis meses Josuel esteja bem.
Confirmando o excesso de burocracia, a assessoria de imprensa do SNT que informou que, mesmo aos jornalistas, precisaria ter o número do processo que trata do credenciamento de Mato Grosso para obter informações. Sem tal protocolo, seria impossível fornecer informações. Em final de tarde, véspera de feriado, o tempo foi insuficiente para atender o pedido pelo SNT.

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