Alguns dizem não mais existir a diferenciação entre direita e esquerda no contexto político atual, alegam que com o fim da União Soviética as ideologias embaralharam-se tanto que é indistinguível o que é direita e o que é esquerda.
Em que pese a dificuldade de conceituar o que é direita e o que é esquerda na atualidade, essas posições ideológicas não desapareceram. O que houve na realidade é que a direita, após o crescimento vertiginoso da influência da esquerda no cenário mundial, acabou adotando algumas posições programáticas que a esquerda defendia outrora. Por outro lado a esquerda deixou de adotar um programa econômico próprio, aplicando nos seus governos os ensinamentos criados pela direita.
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Houve na verdade uma aproximação entre os opostos. O que outrora foi uma guerra ideológica com o adversário bem definido e políticas antagônicas é hoje a aproximação dos antigos inimigos para criar um sistema ideológico que se distingue nos detalhes.
Mas antes de falar o que seriam políticas de esquerda e de direita é preciso conceituar os princípios de cada ideologia. Para isso prefiro adotar o conceito de Norberto Bobbio. Segundo ele a diferença primária entre essas ideologias consiste em como as diferenças e igualdades entre as pessoas devem ser vistas e tratadas. Enquanto a esquerda acredita que todos os homens são iguais e devem ser tratados como iguais a direita acredita que os homens são diferentes e devem ter tratamento diferenciado.
Ou nas palavras do próprio Bobbio: “A diferença entre direita e esquerda não se manifesta sob forma de tensão entre uma igualdade de direita e uma igualdade de esquerda, mas com base no diverso modo em que é concebida respectivamente pela direita e pela esquerda, a relação entre igualdade e desigualdade. (…) a pessoa de esquerda é aquela que considera mais o que os homens têm em comum do que os divide, e de que a pessoa de direita, ao contrário, dá maior relevância política ao que diferencia um homem do outro do que os une, a diferença entre direita e esquerda revela-se no fato de que, para a pessoa de esquerda a igualdade é a regra e a desigualdade, a exceção. Disso se segue que, para essa pessoa, qualquer forma de desigualdade precisa ser de um modo justificada, ao passo que, para a pessoa de direita, vale exatamente o contrário, ou seja, que a desigualdade é regra e que, se alguma relação de igualdade deve ser acolhida, ela precisa ser devidamente justificada”
Claro que a igualdade e desigualdade também é tratada de forma diferente entre as diversas correntes esquerdistas e direitistas. Na extrema esquerda, por exemplo, encontraremos correntes como o anarquismo, que professa a igualdade total igualdade, defendendo inclusive que as pessoas devem participar de todo o sistema de produção. Já a esquerda moderada defende a igualdade de oportunidades, mas tem um discurso moderado quando se trata de igualdade social ou econômica.
O que ocorreu após a queda do muro de Berlim foi que os extremistas de ambas correntes perderam força e os expoentes políticos das doutrinas migraram para o centro, fazendo com que direitistas adotassem políticas que antes eram defendidas pela esquerda e vice-versa.
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O caso do neoliberalismo é o mais patente. Diversos governos que foram eleitos como de esquerda adotaram os princípios neoliberais, uma doutrina tipicamente da direita.
Isso quer dizer que esquerda e direita inexistem hoje? Não. O que houve foi que as partes conflitantes de outrora adotaram políticas de seus antigos adversários que acreditavam que poderiam ser bem sucedidas em seus governos.
Claro que para haver um lado deve haver outro. E muitos professam que direita e esquerda não mais existem porque a direita praticamente desapareceu no cenário mundial em geral, e no Brasil não é diferente.
A direita tem medo de defender suas idéias, por isso sua plataforma praticamente inexiste nos dias atuais. Com isso a direita na política atual se resume aos atores que buscam o fisiologismo e as negociações no seio do governo.
Enquanto isso a esquerda adota uma postura cada vez mais moderada e, em nome da governabilidade, cede cargos e favores à direita, que descobriu que governar não é o seu forte, pois como coadjuvante pode ter menos responsabilidade e mais influência do que se colocar como oposição.
O problema disso reside em que a direita se retirando da luta inexiste um projeto alternativo nas áreas econômica (na qual a direita geralmente se destaca), social e política, fazendo com que os projetos em disputa pouco se diferenciem e que o debate político seja esvaziado e pouco construtivo.
Em tempo: Para quem quiser se aprofundar sobre o tema sugiro o livro Esquerda e Direita, de Norberto Bobbio.
Política e Verdade
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