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sábado, abril 02, 2011

O MINC QUE TODOS NÓS QUEREMOS

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Por Suely Pinheiro

É incompreensível observar na atualidade, onde o Brasil produziu um líder político carismático com inimaginável índice de aprovação popular, sejamos obrigados a assistir, boquiabertos, o nível de agressividade com que se conduz o debate sobre Arte e Cultura. Lemos dias atrás um candidato a Ministro ser classificado de ladrão, e ninguém pensou em chamar a polícia. LULA tem se caracterizado a cada dia na mais perfeita expressão da generosidade e tolerância com os contrários, possibilitando avanços estruturais e culturais irreversíveis, como nunca se teve notícia. Só conhecemos um caso semelhante, Mandela. Este foi torturado e humilhado, durante décadas, por lutar pela liberdade de seu povo. Quando saiu do cárcere fez a sua bandeira, o perdão. Lula sofreu um outro tipo de humilhação, a violência da miséria, e se rebelou contra ela de forma moderna sendo capaz de ouvir os mais contundentes inimigos e suportar o tranco dando-lhes respostas com trabalho. Ontem, com a morte de seu companheiro de Planalto ficou tudo esclarecido, a cena do beijo de Lula em José Alencar grava um período para a posteridade. É repulsivo, portanto, que meia dúzia de aventureiros fale em seu nome, forçando um confronto desnecessário e um passo atrás nas parcas conquistas das últimas décadas, que procura transformar o Brasil numa terra de oportunidades para todos. Esse é o tema desse texto.

 (*) cantora

ninabecker

Pode-se dizer que o atual Ministério da Cultura está pressionado por três demandas distintas, cada uma a seu modo brigando para impor o seu modelo de Política Pública, de questionável universalidade. Legítimas sob determinados aspectos, essas demandas são insuficientes para equacionar a complexidade de nossa realidade sócio-cultural. Elas se fazem representar não por extratos sociais ou econômicos, mas por bandeiras que em última análise buscam hegemonia política sobre os demais segmentos. Em determinados momentos, chegam a pregar a aniquilação do oposto. Faz-se representar por movimentos, a saber:

- Movimento dos grupos de teatro, que reivindicam legitimidade por seu trabalho continuado;

- Movimento dos integrantes dos Pontos de Cultura, espalhados pelo Brasil;

- E, por último, o movimento da Cultura Digital, carecendo urgentemente de um exame de DNA para se saber ao certo se é filho ou não da Cultura Nacional. Capitaneados por professores acadêmicos, Webdesigners e curiosos em geral, navegam nesses três movimentos, pesquisadores aqui, acadêmicos ali, alguns jornalistas acolá, abrindo espaço para vender os seus livros e valorizar seu próprio trabalho profissional. Chega a ser patético.

A pergunta que se faz é, “a Produção Artística Nacional e a Diversidade Cultural é só isso?”. Cada um dos milhares de artistas espalhados pelo Brasil; cada estudioso de música popular ou erudita; cada crítico da produção artística e cultural nacional; cada artista plástico (desconhecemos produção pictórica coletiva); cada escritor e cada poeta, que tire as suas conclusões organizando o seu segmento e procure o Ministério Da Cultura - MINC, quando não a Fundação Nacional de Artes FUNARTE. Nós temos uma visão clara sobre tudo isso.

(**) Violeiro e compositor

tiaocarreiroa

O modelo de gestão cultural precisa estar em sintonia com o desenvolvimento do mercado formal, onde os artistas, estudiosos e os próprios gestores tenham à possibilidade de um “plano de carreira” como reivindicam hoje, paradoxalmente, os funcionários públicos, controladores de vôos, policiais civis ou militares. Não é possível admitir que um Governo que está fazendo história, tirando da miséria milhões de pessoas, assegurando-lhes carteira assinada, assistência médica, aposentadoria, venha a assumir esse papel colonizador, enaltecendo a figura do menino do “pau-de-sebo”, voltando ao tempo da senzala onde os escravos viviam a mercê de uma ração diária. Tal como pretendem os chefes de torcida desses movimentos, não haverá sal para todos muito em breve. Nós dissemos sal (Sol, com certeza não faltará e não mais como imagem poética, pois todas as poéticas vão virar pó). A situação em que se chegou, ao final da gestão anterior, é a prova de que o Estado brasileiro ainda é muito frágil para tanta promessa. E é esse modelo anterior que grupos querem a todo custo manter. A atual gestão deu sinais de que é preciso adequar política econômica com política cultural.

Os movimentos que aí estão favorecem tão-somente os artistas que sonham disputar uma vaga no funcionalismo público e a demanda reprimida dos professores acadêmicos do Estado mal remunerado, no entanto remunerados por décadas através de governos devotos do liberalismo. O MINC precisa abrir espaço para receber a participação de extratos sociais, definidos na Constituição, tais como os artistas que vendem a sua mão de obra para a Industria Cultural, que não foi e nem será destruída por Decreto. O MINC carece receber, de braços abertos, profissionais que até ontem eram considerados inimigos da opressão, do atraso e da exploração. Não é possível admitir a violência, defendida em prosa e prática, pelos expoentes da “nova cultura”, “do novo paradigma” com o risco de aí, sim, retroceder aos tempos do Império.

Atores (freqüentadores dos testes de comerciais, dos portões da Tevê Globo, Rede Tevê, Record); instrumentistas de sinfônicas; trompetistas e tocadores de tuba de bandas do interior do Brasil; músicos que tocam nos bares noturnos; grupos de pagodes, choro e samba de roda; mamulengueiros; artistas de feira; escritores dos tempos dos mimeógrafos; repentistas; e artistas em geral, uní-vos. A República dos Artistas Brasileiros vem aí.


Jair Alves - dramaturgo e ator

(*) Nina Becker

(**) Tião Carrero

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