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domingo, agosto 05, 2012

Moradores do Posto da Mata ainda têm esperança de que desocupação seja revertida

Posseiros: “Vão ter que matar muita gente aqui”

por Rodrigo Vargas

William Oliveira da Silva, 27 anos, mantém a construção de sua casa, indício de que não pretende sair

O sol do meio-dia quase desaparece em meio à densa nuvem de poeira que se espalha com a força da ventania. Nas ruas e avenidas do Posto da Mata, pessoas caminham protegendo os olhos.
Impossível não sentir um gosto de terra a invadir a boca ao respirar. “É o vento de agosto. Começou o mês do cachorro louco”, explica o comerciante goiano João Batista Barros Souza, de 58 anos.
O que seria um comentário banal sobre o clima, na atual circunstância, ganha um novo significado. Este agosto de 2012, para João e outros milhares de moradores da localidade, poderá ser o pior de suas vidas.
“Cheguei aqui há 39 anos para trabalhar na Suiá-Missu. Quando saí, escolhi este ponto e montei um botequinho. Tudo o que tenho hoje foi conquistado aqui”, diz ele, que hoje é dono do maior supermercado local.
Questionado sobre a perspectiva de ser removido da área, diz que aceitaria “pacificamente” caso recebesse uma “indenização pelo trabalho”.
“Eu cheguei aqui novo, hoje estou velho. Se o governo disser que eu vou ter que ir embora com meus filhos e netos para beira da estrada, não sei o que vai ser. A gente nunca sabe a nossa natureza, mas vão ter que matar muita gente por aqui”, diz.
Ainda resta muita esperança em uma reviravolta judicial e não é possível encontrar uma só pessoa que não defenda, com todas as forças, a tese de uma suposta fraude da Funai. Os índios, repetem a todo o momento, nunca teriam habitado as terras demarcadas.>>>

“Eu nasci onde hoje é São Félix há 61 anos e sei que nunca houve índio nesta área. Eles só foram aparecer depois que o sêo Ariosto [da Riva, colonizador] abriu a Suiá Missu”, diz Sebastião Oliveira.
Oriundo da leva de posseiros que invadiu as terras da antiga fazenda a partir de 1992, ele nega que o movimento tenha sido incentivado por políticos e grandes produtores da região. “Cada um tomou a decisão de ir entrando”, diz.
Outro remanescente dos funcionários da Suiá Missu, João Antônio Costa, 64 anos, mostra a carteira de trabalho para atestar o primeiro registro, assinado em 1971. “Trabalhei para a Suiá Missu e hoje tenho um pedaço dela”, afirma.
Um pedaço de 27 alqueires que, segundo ele, pertence a seus filhos e netos, não aos índios. “Estou passando noites sem dormir, pensando no que vai ser. Se a polícia vier me dizer que eu tenho que sair da minha casa para ir para o meio da rua, eu arrisco brigar.”
Os mais jovens também prometem resistência. No mesmo dia em que a Justiça estipulava um prazo de 30 dias para a desintrusão, William Oliveira da Silva, 27 anos, assentava tijolos na parede de sua nova casa.
Diz que nem pensa no risco de perder o investimento. “A vida inteira eu acreditei nesta causa. Isso aqui é nossa terra e não vamos desistir agora. Vou terminar esta casa porque acredito que a Justiça vai reverter essa loucura”, afirma.
Segundo ele, o sentimento dos moradores indica que a remoção, se vier, não será pacífica. “Se eles me tirarem daqui, eu vou morrer de desgosto, então prefiro morrer aqui, na minha terra. Aqui tem muitos que só vão sair na última bala. Eu sou um deles.”

Fonte: Diário de Cuiabá

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