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sábado, dezembro 01, 2012

Dia mundial da AIDS - Uma luta que vai além do vírus

A investigação médica concentra-se em medicamentos capazes de prevenir a infecção com o HIV.

A investigação médica concentra-se em medicamentos capazes de prevenir a infecção com o HIV. (AFP)

Por Luigi Jorio, swissinfo.ch

A pesquisa científica sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV) fez passos de gigante nos últimos trinta anos. Hoje, uma pastilha é suficiente para manter a infecção sob controle. Mas ainda não existe um remédio para o sofrimento causado pela doença.

"O vírus HIV não tem cura", lamenta o doutor Enos Bernasconi, especialista em doenças contagiosas e de AIDS. "A maior parte das pessoas que recebe um tratamento antivírus pode ter uma vida normal, ter filhos”, declara.
O departamento suíço "Coorte HIV" (que reúne dados epidemiológicos em larga escala, veja o link ao lado) informa que em mais de 90% dos soropositivos em terapia, o vírus não é mais contado no sangue, observa o vice-diretor de medicina interna do Hospital Regional de Lugano. "Até poucos anos atrás este índice era de 70%". Se as pessoas contaminadas se curassem de forma correta, insiste Bernasconi, "seria possível controlar a infecção em longo prazo."

A pesquisa avança

Remédios estão disponíveis para terapias que inibem o retorno do vírus. Desta forma evita-se o surgimento de doenças "oportunistas", e mortais, que definem a AIDS, afirma Enos Bernasconi. "É essencial curar-se logo e tomar os remédios com constância."
Atualmente, a pesquisa científica se concentra no aperfeiçoamento dos medicamentos antirretrovirais. "Já faz dois, três anos que se desenvolvem terapias triplas, concentradas em uma única pílula. Para o paciente trata-se de uma grande melhora. Não é mais influenciado por horários e pode levar a terapia consigo, facilmente, em caso de viagem", afirma Enos Bernasconi, recentemente nomeado professor titular na Faculdade de Medicina da Universidade de Genebra, um dos principais centros suíços de pesquisa sobre o HIV.
Além disso, continua, tenta-se evitar os efeitos colaterais das terapias (reações alérgicas, problemas renais ou hepáticos,...). "É um aspecto fundamental. No passado, muitas vezes era necessário suspender uma cura por causa de intolerância a um remédio."
Os medicamentos antirretrovirais podem também prevenir uma nova infecção, depois de uma exposição ao vírus, observa o médico. "Podemos, por exemplo, dá-los ao pessoal de serviço - como médicos ou enfermeiros - que tenha se ferido acidentalmente com uma agulha contaminada. Neste caso, seria suficiente apenas um mês de tratamento".
Os Estados Unidos aprovaram, no verão passado, a comercialização de Truvada, o primeiro remédio capaz de prevenir a infecção de HIV. A profilaxia é para as pessoas saudáveis, mas com alto risco de contágio, como quem tem relações sexuais com parceiros soropositivos.
Ampliar o uso de remédios antirretrovirais em pessoas saudáveis é "discutível", pensa Enos Bernasconi. "Mesmo que os estudos não evidenciem, este uso "incontrolado" poderia produzir um aumento da resistência. Temos ainda que questionar se é ou não o caso de aplicar medicamentos a quem está bem."
E a vacina? "A pesquisa de base avança e existem progressos interessantes. Mas não se vê ainda uma luz forte no fim do túnel", responde o médico, lamentando-se da peculiaridade do HIV. "Ele se multiplica rapidamente e vive num estado de mutação constante. O seu alvo são as células do sistema imunitário, e isto torna a realização de uma vacina muito difícil."

Descobrir a doença

O vírus HIV atinge 0,4% da população (cerca de 25 mil pessoas) da Suíça. A taxa é uma das mais altas da Europa ocidental, apesar das campanhas de prevenção organizadas todos os anos. O país é, de fato, o único que informa com regularidade a população desde 1987, o ano de introdução do Dia Mundial contra a AIDS (1° de dezembro).
A prevenção funciona, reage Harry Witzthum, do comitê diretor do Ajuda AIDS Suíça (AAS). "A situação atual é ligada à história da doença na Suíça. Tivemos que enfrentar três epidemias concentradas, ao contrário de outros países: o vírus difundiu-se entre os homens homossexuais, os dependentes de drogas e os imigrantes."
Um passado que se mantém no presente no número de novos contágios (a média é de 600 por ano). "É um nível que continua alto. Desde 2009, entretanto, se percebe uma diminuição em todos os grupos a risco, também graças ao trabalho de prevenção", diz Witzthum.
No aniversário de 25° ano, a campanha de prevenção nacional (hoje denominada de LOVE LIFE) convida o doente a declarar a própria condição de saúde. Ele deve informar ao parceiro, acima de tudo, além comunicar aos centros de consulta médica, para ser submetido aos testes e às terapias.
A mensagem é dirigida, indiretamente, também às comunidades de imigrantes. O nível de soropositivos é dez vezes superior à média nacional entre os residentes com origem na África subsaariana, uma das zonas mais atingidas pela doença no planeta. “Mais de 30% das transmissões do HIV na Suíça, em heterossexuais, ocorrem entre os imigrantes", afirma Witzthum.
"Na Suíça, oitenta por cento dos clandestinos não possuem cobertura hospitalar, apesar da obrigação de ter um plano de saúde. Muitos não têm dinheiro para pagar o valor dos planos ou temem que a permanência ilegal no país seja descoberta", acrescenta.
Sob este ponto de vista, declara AAS, a Suíça poderia se inspirar ao modelo britânico. Na Inglaterra, desde o começo de outubro, os imigrantes ilegais possuem um acesso gratuito às terapias antirretrovirais.

Combater a exclusão social

A estrada ainda é longa, mesmo com os passos à frente realizados pela medicina, alerta o ministro da Saúde da Confederação, Alain Berset, durante um encontro sobre a AIDS, organizada na metade do mês de novembro, em Zurique.
"Um diagnóstico do HIV chega acompanhado de discriminação e estigmatiza uma pessoa, mesmo aqui na Suíça", disse Berset. Poucos progressos foram feitos sob este aspecto, confirma AAS, lamentando-se que o mal estar de quem se sente excluído pode terminar, e não raramente, em crises depressivas e atos de suicídio.
Nos primeiros seis meses do ano, quase a metade dos casos de discriminação informados à organização (46, no total) ocorria nos locais de trabalho (demissões sem justa causa, mobbing) ou no âmbito dos seguros hospitalares. "É apenas a ponta do iceberg. Recebemos informações contínuas de soropositivos impedidos de fazer carreira por causa da doença", observa Harry Witzhum.
Para AAS, o combate ao vírus é também uma luta contra a exclusão social, da comunidade e da família. Hoje, temos uma vasta gama de instrumentos de prevenção e novos estudos estão em fase de desenvolvimento: pensar a "uma futura geração sem AIDS não é uma utopia", confirma AAS. Mas este objetivo, adverte, não poderá ser alcançado sem antes não ter debelado a discriminação.

Luigi Jorio, swissinfo.ch
Adaptação:Guilherme Aquino

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