O grupo criminoso acusado de praticar fraudes nos fundos previdenciários – desarticulada na Operação Miquéias, da Polícia Federal, na semana passada – cita Nortelândia (a 250 km de Cuiabá) em conversa. Integrantes da quadrilha, em áudio interceptado dia 21 de maio deste ano, dizem que o município teria R$ 2 milhões para aplicação.
Sem pronunciar nomes, o advogado de Mato Grosso Marden Tortorelli, que intermediava o contato de Luciane Hoepers, conhecida como a “musa do crime”, nas negociações com os agentes políticos, diz que uma pessoa quer saber onde o dinheiro seria aplicado. A mulher explica que o valor só poderia ser investido em renda fixa.
Em outro momento da conversa, o advogado e Luciane dizem que Nortelândia conta com R$ 3 milhões, não mais os R$ 2 milhões como no início do diálogo. Marden pergunta para a mulher se a pessoa poderia investir 20% em outros fundos. “Ele pode aplicar 15% em Cedic, só que para aplicação mínima no Cedic é de R$ 1 milhão, e 15% dele não dá R$ 1 milhão”, explicou por telefone. Ela ainda ressalta que só seria possível de fato em renda fixa.
No diálogo, os dois deixam a entender que a pessoa tinha interesse de participar da fraude, mas em outras aplicações. Com isso, o advogado disse que não ficaria perdendo tempo explicando que não seria possível. “Eu preciso saber com quem nós vamos fazer, esse aqui também não vai fazer, pode esquecer”, conforme trecho da conversa. Luciane autoriza o Marden a retirar a pessoa e ressalta que ele poderia tirar qualquer dúvida com ela.
Além de Nortelândia, pelo menos outros 13 municípios de Mato Grosso teriam sido assediados pelo grupo. Os prejuízos causados seriam da ordem de R$ 300 milhões. No inquérito da Polícia Federal, com cerca de 300 páginas, aparecem diálogos relacionados à Sinop, Primavera do Leste, Cáceres, Lucas do Rio Verde, Rondonópolis, Colíder, Nova Canaã, Juína, Feliz Natal, Aripuanã, além de Cuiabá e Várzea Grande. Não fica claro, entretanto, se houve apenas lobby.
Junto com Marden, a investigação apontou a participação de Samuel Pacheco de Moura Belchior, deputado estadual licenciado e secretário do governo de Goiânia, como um dos braços da organização na viabilização de ações em Mato Grosso, Goiás e Acre. As investigações apontaram a existência de crimes de lavagem de dinheiro e má gestão dos recursos de entidades previdenciárias públicas, que acontecem em dez estados, que estão sob investigação da Polícia Federal há um ano e meio.
O esquema ocorria na utilização de contas bancárias e empresas fantasmas, abertas com nome de “laranjas” para ocultar os verdadeiros responsáveis pelas movimentações financeiras. Até então, sabia-se apenas da existência de lobby em Várzea Grande Cuiabá.
Outro lado
O prefeito de Nortelândia, Neurilan Fraga (PSD), diz não ter sido procurado pelo grupo criminoso. Ele ressalta que o município faz as aplicações no Banco do Brasil, Sicredi e Caixa Econômica, conforme o que estiver apresentando melhor rendimento. O social-democrata explica que até então só foi procurado pela Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) para que ela administrasse o fundo de previdência – que gira em cerca de R$ 3 milhões, conforme o social-democrata -, mas que preferiu não mudar.
Já o secretário municipal de Administração, Edivaldo Sá, relata que foi procurado por dois homens que fizeram proposta de aplicação em fundos, mas que não aceitou. Ele, contudo, diz não lembrar o nome das pessoas que o procuraram. “Como o município já faz a aplicação nos bancos daqui não estendemos a conversa”, assegurou.
Quanto a gravação da PF , onde o advogado e Luciane citam que uma pessoa queria a aplicação em outros fundos, Neurilan diz que não tem ideia de quem pode ser, mas que se houve algo de errado as autoridades policiais vão descobrir. O prefeito frisa que mesmo se a tal pessoa tivesse aceitado fraudar a previdência não teria passado por ele. “Se alguém tentou fraudar não chegou a meu conhecimento. E eu teria negado”, reforçou o social-democrata.
Por: Victor Cabral
Fonte: RD News
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