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domingo, junho 25, 2017

Valtenir x Mauro: A história de uma rixa que ganha novo contorno em 2017



O PSB em Mato Grosso passa por um momento de turbulência interna desde a dissolução do diretório provisório que era comandado pelo grupo do ex-prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes. A situação piorou quando o deputado federal Valtenir Pereira saiu do PMDB para assumir a presidência do Partido Socialista Brasileiro no Estado a pedido do presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira.

Pereira é desafeto pessoal do grupo de Mendes e seus companheiros - Fabio Garcia, Eduardo Botelho, Oscar Bezerra, Max Russi e Mauro Savi. Essa história não começa agora, mas em 2008, em uma eleição a prefeito de Cuiabá, e ganhou força mais tarde, quanro Mauro e Valtenir dividiram a mesma sigla por quatro anos.

Rixa antiga

Eleito vereador de Cuiabá pelo PT em 2004, Valtenir Pereira migrou ao PSB pela primeira vez em 2005, por onde foi eleito deputado federal em 2006 e se manteve até 2013. Todo esse período ele presidiu a sigla em Mato Grosso.

Em 2008, Valtenir disputou a Prefeitura de Cuiabá, tendo enfrentado o empresário Mauro Mendes, então filiado ao PR, naquele que seria o primeiro embate de ambos. O empresário se saiu melhor e seguiu para o segundo turno da disputa, mas também foi derrotado pelo então prefeito Wilson Santos (PSDB).

Um ano depois, quando percebeu que não teria muito espaço no PR para ser candidato ao Governo do Estado, Mauro Mendes, após articular com Percival Muniz (PPS) - estão deputado estadual opositor a Blairo -, filiou-se ao PSB. Boatos davam conta que a filiação ocorreu sem anuência de Valtenir.

Naquela época, Valtenir era aliado do governador Blairo Maggi (PR), que tinha o compromisso de apoiar o então vice-governador Silval Barbosa (PMDB) na tentativa, que viria a ser vitoriosa, de ser o próximo governador. A chegada de Mendes no PSB alterou, forçosamente, os planos de Valtenir de permanecer naquele arco de alianças, o que em tese facilitaria a reeleição do deputado federal.

O empresário e então presidente da Federação da Indústria de Mato Grosso (Fiemt) chegava ao PSB com status candidato ao Governo. A partir de então, dentro do PSB, a disputa por poder era uma gangorra entre a maior “estrela” da sigla, Mauro Mendes, e o então presidente de fato, Valtenir Pereira.

Apesar dos embates internos entre ambos, Mendes se consolidou candidato pelo PSB, mas foi derrotado nas urnas por Silval Barbosa. Por outro lado, aquela chapa reelegeu Valtenir e alçou ao Senado o ex-procurador de Justiça Pedro Taques, então filiado do PDT.

Em 2012, no entanto, Mauro Mendes venceu a disputa pela Prefeitura de Cuiabá e seu grupo ganhou mais força dentro do PSB. Em 2013, após vários desgastes interno, Valtenir deixou a sigla para comandar o recém criado PROS. E ele não deixou o PSB sozinho. Levou consigo 11 dos 12 prefeitos eleitos pelo PSB em Mato Grosso, além parte dos vereadores.

O prefeito Mauro Mendes assumiu a presidente estadual do PSB e seu grupo escancarou o desgosto por Valtenir. Como o deputado federal levou consigo boa aprte das lideranças, o grupo havia perdido parte da força para a eleição de 2014.

Naquela época, Fabio Garcia era secretário de Governo da Prefeitura de Cuiabá e se preparava para sua primeira eleição a deputado federal, bem como Adilton Sachetti, que retornava a uma eleição após seis anos. Oscar Bezerra e Max Russi também preparavam suas candidaturas a deputado estadual. Todos sentiram-se “deixados na mão” por Valtenir. Mauro Savi, que filiou-se ao PSB em 2016, era o único que ainda não fazia parte do grupo.

Capítulo 2017: A dissolução

O presidente Carlos Siqueira dissolveu o dispositivo provisório do PSB no dia 27 de abril, um dia após Fabio Garcia votar a favor da reforma trabalhista, de forma contraria a orientação da Executiva nacional da sigla. O motivo oficial foi a desobediência partidária.

Esse dispositivo continha maioria das principais lideranças do grupo reunido por Mauro Mendes no PSB: Ele próprio era o presidente de honra, Fabio Garcia o presidente, Eduardo Botelho como secretário de movimento partidário, Oscar Bezerra ocupava o cargo de secretário de organização política e Max Russi como secretário de Finanças.

Todo o grupo de Mauro e Fabio taxaram a ação de Siqueira como autoritária e tentaram reverter. Mais de um mês e meio depois de tratativas, a expectativa era de que Mauro Mendes fosse escolhido por Siqueira para substituir Fabio no comando do partido, a fim de chegar a um meio termo: Uma punição pela desobediência, mas nada de tirar o grupo do comando da sigla em MT.

Entretanto, no dia 15 de junho, Siqueira anunciou o retorno de Valtenir Pereira, que estava no PMDB, ao PSB e no comando da sigla em Mato Grosso.

Vale lembrar que o PSB de MT era comandado por um dispositivo provisório, não uma executiva eleita por votação, portanto poderia ser dissolvido, a qualquer momento, pela direção nacional da sigla. Conforme o estatuto do PSB, para haver eleição de um diretório estadual o partido precisaria ter conquistado pelo menos 8% dos votos para deputado federal. Como não foi esse o caso, o dispositivo era temporário.

O Pano de Fundo

E tudo isso conta como pano de fundo as eleições de 2018. Em outubro, o PSB deve passar pela sua primeira eleição com dois candidatos para a presidência nacional da sigla desde a morte de Eduardo Campos. O atual presidente, Carlos Siqueira, foi eleito por aclamação em 2014, após o falecimento do ex-governador de Pernambuco em um acidente de avião, sem precisar enfrentar qualquer rival.

Dessa vez, no entanto, Márcio França (PSB), vice-governador de São Paulo, mostra intenção de se candidatar a presidência do partido, o que criou clima de disputa interna na sigla.

Vale lembrar que Carlos Siqueira é do grupo ligado ao falecido Eduardo Campos, herdeiros do espólio político de Miguel Arraes, um político historicamente ligado a esquerda, que foi exilado durante a Ditadura Militar. Siqueira é visto como simpático a apoiar uma candidatura de Luís Inácio Lula da Silva (PT) a presidência do Brasil.

Enquanto isso, Márcio França é vice-governador de outro presidenciável, o tucano Geraldo Alckimin (PSDB). Além disso, ele está mais a direita no espectro político, tendo proximidades com a Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp).

Como a eleição será feita através de delgados, eleitos nas convenções municipais e, depois, estaduais, Carlos Siqueira estaria em busca de manter apenas aliados na maior parte das executivas possíveis. O grupo liderado por Mauro Mendes em Mato Grosso possui muito mais proximidade com Márcio França e isso teria causado incomodo a Siqueira, que então buscou uma solução em Valtenir Pereira.

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