Por Marcos Morita
Enquanto no velho continente ecoam protestos e manifestações relacionados à fragilidade econômica, o Brasil comemora o que os economistas denominam como situação de pleno emprego. Vagas em aberto, importação de profissionais, treinamento e capacitação, mercado de contratações em ebulição, rotação de profissionais, salários em alta, aumentos e reajustes pressionando a inflação, são alguns dos sinais deste cenário inédito.
Mas qual o real impacto deste crescimento sobre os profissionais? Como aproveitar as novas oportunidades? Para tentar mensurá-las, traçarei um paralelo entre o crescimento do país e as carreiras, utilizando-se a teoria do ciclo de vida de marketing. De acordo com o guru Phillip Kotler, um produto ou serviço possui quatro fases distintas em sua vida: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Vejamos brevemente como podem ser definidos.
Introdução: um novo produto, serviço, conceito ou extensão de marca ou linha. Para colocá-lo no mercado são necessários altos investimentos em divulgação e publicidade, com baixos volumes e margens.
Crescimento: caracterizada pelo aumento considerável no faturamento, mantendo-se os investimentos. É neste período que se costuma atingir o ponto de equilibro, ou seja, receitas = despesas.
Maturidade: marca ou solução reconhecida, relativa participação de mercado e vendas estáveis. Combinação que permite a empresa atingir o patamar máximo de lucratividade.
Declínio: obsolescência, novas tecnologias, mercados em quedas ou mudanças nas preferências dos consumidores são alguns dos fatores desta fase. É hora da diversificação, reposicionamento ou saída do mercado.
O Brasil parece finalmente ter entrado no patamar de crescimento, após inúmeras tentativas de introdução frustradas. Aumentos nos investimentos externos, democracia consolidada, respeito às leis, mercado consumidor crescente, consolidação de conglomerados nacionais, obras de infra estrutura. Porém todo o cuidado é pouco, uma vez que há ainda muito que fazer para que cheguemos à maturidade. Vejamos a questão das carreiras sob o prisma do ciclo de vida dos produtos.
Introdução: a lista de novas profissões é bastante extensa e os salários tentadores, puxadas por atividades e setores como sustentabilidade e indústria de petróleo. O benefício aos jovens está na maior possibilidade de escolha. Vale salientar que também no mercado de trabalho há modismos e tendências. Pilotos comerciais que hoje voam literalmente em céus de brigadeiro até pouco tempo estavam em sua grande maioria em terra, procurando por empregos. Os mais velhos talvez se lembrem da célebre lanchonete cujo nome: “engenheiro que virou suco”, refletia bem a situação desta classe na época, hoje caçados a peso de ouro pelo mercado.
Crescimento: a reengenharia, propalada por Michael Hammer no início dos anos noventa, reduziu os níveis hierárquicos das empresas, criando estruturas horizontalizadas. As carreiras deste então são muitas vezes construídas lateralmente, através de novos projetos ou funções. O crescimento das empresas pode acelerar esta fase, uma vez que novas posições são abertas ou criadas. Isto pode resolver em parte a questão da rotatividade dos jovens nascidos após os anos oitenta, também denominados como geração Y, cuja impaciência faz com que prefiram trocar de empresa ao invés de aguardar por oportunidades internas.
Maturidade: boas notícias aos profissionais maduros. Com a escassez de mão-de-obra, abrem-se boas oportunidades para profissionais considerados aposentados de forma prematura pelo mercado. Coordenação, supervisão e gerência necessitam de experiência, algo ainda não ensinado nos bancos escolares. Estruturas enxutas e mercados crescentes fazem aumentar a procura por profissionais autônomos ou consultores, nas mais diversas áreas - recursos humanos, marketing, tecnologia da informação, logística e até as já tradicionais: contabilidade, segurança e alimentação.
Declínio: profissionais em introdução, crescimento ou maturidade devem estar bastante atentos para não entrarem nesta fase. Apesar da euforia com eventuais aumentos salariais, promoções ou trocas de empregos, é bom lembrar que o país ainda está longe da maturidade. O mundo globalizado por sua vez, faz com que tsunamis, governos ditadores e crises em hipotecas contaminem nosso crescimento. Educação continuada, atualização profissional, rede de relacionamentos, línguas e cursos de extensão devem estar no planejamento e na agenda de todos os profissionais.
Por fim, esteja preparado e aproveite o bom momento da economia para alavancar sua carreira. Sou um adepto da frase: sucesso = preparação + oportunidade. Basta agora os governantes fazerem sua lição de casa, levando o país com responsabilidade e seriedade à inédita maturidade. Como profissionais, devemos nos preparar e torcer para que o Brasil não voe novamente como uma galinha, ou seja, passando diretamente do crescimento ao declínio.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas e professor da Universidade Mackenzie. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
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